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tudo que aprendi na vida, aprendi com star trek
Em breve parto para a pré-estréia de Star Trek. E pretendo verbalizar minhas opiniões a respeito do filme por aqui. Mas antes, um post pessoal fazendo uma retrospectiva dessa franquia pop na minha vida. Para os aversos ou não escolados aviso que esse texto, embora faça inúmeras referências a franquia, não é sobre ela – é sobre minha relação com ela. Agora, se você é averso tanto a mim quanto a Star Trek, parem de ler agora.
Aos 13 ou 14 anos, eu tinha uma forte tendencia nerd. Diferentes amigos me apresentaram três importantes pilares educativos para seguir esse iluminado caminho: Quadrinhos, RPG e Star Trek. Enquanto RPG havia deixado uma marca leve até então, rapidamente peguei o embalo em Star Trek e quadrinhos de super-herói, embora sinceramente não tenha certeza de qual ocorreu primeiro.
Mas seja qual for, a presença de Star Trek foi chave. Já havia visto alguns episódios da série clássica dos anos 60 nas tardes da Record, e achava divertido. E tinha vagas lembranças de meu pai assitindo A Ira de Khan. Mas foi aí que um grande amigo me emprestou os então 6 filmes para o cinema. Em duas tardes assisti tudo. E fui fisgado. O futuro limpo e aventuresco, a tecnologia, as pessoas de diferentes origens contribuindo de diferentes maneiras para o objetivo comum – tudo aquilo me fascinava, achava de uma imaginação incrível.
Poucos meses depois me mudei de cidade, e em um lugar desconhecido, lutando para fazer amigos, muitas das minhas tardes eram preenchidas por Kirk, Picard e seus respectivos amigos. E foi graças a eles, e minha coleção de naves de montar, que conheci vários outros amigos, com gostos semelhantes, que me puxaram ainda mais para o lado nerd da força.
Longas discussões sobre se a Enterprise conseguiria derrotar um Battlecruiser, noites em claro jogando jogos de tabuleiro e RPGs. Mais quadrinhos, mais filmes e seriados de Star Trek e outras ficções científicas ou não. Bons tempos. Os mesmos amigos depois cresceram comigo, muitos deles mantenho contato até hoje e são grandes companheiros de vida. Todos nós tivemos a nerdice diluida na míriade de influências que tomou conta de nossas vidas desde então, mas o coração de cada um ainda guarda enorme espaço para essas paixões seminais.
O tempo passou e Star Trek foi tendo cada vez menos lugar na minha mente. Outras influências culturais, educativas e sociais foram permeando e empurrando Star Trek para o escanteio – sequer assisti os seriados de Voyager ou Enterprise
por inteiro; e pensando bem, provavelmente nem vi tudo de A Nova Geração
. Meu gosto por tecnologia e ciência continuou. Trabalho com tecnologia e embora eu não seja cientista, o assunto me interessa muito, e tendo a usar um approach científico para a tomada de decisões. Sendo um designer, sempre fujo de colocações qualitativas como “gostei” ou “porque quero” em troca de argumentações lógicas. Independente do seu ramo, enxergo como uma maneira muito mais válida de enxergar seu trabalho.
Culturalmente continuei apreciando Fantasia e Ficção-Científica, mesmo que com uma frequência menor. Meu gosto por um drama bem escrito aumentou, e passei a buscar essas qualidades em todos os gêneros. O que me levou ao meu favorito atual: Battlestar Galactica – uma série que ao meu ver pegou a tocha de reflexão abandonada por Star Trek há muito. Ter um contato menor com a pureza de Star Trek, creio que aumentou meu grau de cinismo com relação ao mundo; o que considero saudável. Sempre que retorno a Star Trek acabo por buscar os momentos em que a série trancende seus padrões filosóficos e dramáticos e mostra um brilho diferente (poderia listá-los, mas não o farei).
A mensagem mais difundida de Star Trek, com seu futuro utópico, de que existe esperança para a humanidade, já não faz efeito em mim – afinal eu vejo notícias. O que Star Trek ajudou a incutir em mim, e que considero valores importantes, foram a curiosidade e a tolerância. Dois pontos chaves para tentar entender o mundo e os indivíduos a sua volta. Mesmo que você não concorde e mesmo tente dissuadí-los de seus caminhos, você consegue compreender de onde esse caminho surgiu. Ao meu entender, sem esses dois sentimentos você não chega na visão utópica. Enquanto o tema de Star Wars é o crescimento pessoal, Star Trek fala do crescimento da raça humana.
Não é uma questão de dar as mãos e sermos felizes. Ser politicamente correto, além de não ter graça, só abafa as diferenças, não as agrega. É preciso entender que por trás da convivência existe um trabalho duro e muita paciência. A utopia não é onde todos são iguais, é onde entendemos que não somos todos iguais, e não devemos ser. Da maneira que minha vida se desenrolou, ter assistido Star Trek me colocou no caminho certo para conhecer as pessoas certas na hora certa. Pessoas que me abriram os olhos muito mais do que qualquer seriado.
Star Trek tem sim uma certa ingenuidade por achar que a unificação da humanidade é inevitável e a partir daí, inabalável. Por isso que minha encarnação preferida da franquia é Deep Space Nine. Pois ela conseguiu balancear bem a vontade da utopia e as dificuldades que os indivíduos impõe para atingir este nobre objetivo.
Todos temos defeitos, e é preciso saber lidar com eles para o nosso bem e o bem maior. Assim como Deep Space Nine, o sexto filme para o cinema, A Terra Desconhecida, toca nesses assuntos. É o último filme reunindo toda a chamada tripulação Clássica, que decidi assistir novamente no último fim de semana como fechar o círculo antes do filme de JJ Abrams. Nele, vemos os personagens lutando para não se tornarem obsoletos – uma luta da própria franquia – senhores, e uma senhora, de idade tentando olhar além de seus preconceitos e enxergar o que há de comum entre eles e seus inimigos mortais de décadas. Não porque é o certo, mas porque é assim que se sobrevive. Teorizo que Kirk e seus amigos enfrentam seu maior desafio até então, pois a ameaça não se trata de uma nave ou entidade que pode ser dispensada com o apertar de alguns botões, mas sim a mudança, pura e simplesmente.
E a mudança não pode ser impedida, ela pode ser moldada, para o melhor ou para o pior. Assim como nos nossos tempos atuais de crise.
De longe não estou dizendo que para ter esses sentimentos de desbravamento e tolerância é necessário assistir Star Trek. Há muitas outras fontes, mais nobres e menos estapafúrdias. Mas para mim, esse universo veio no tempo certo. Aquela época em que absorvemos muita informação, seja ela qual for, que nos achamos invencíveis e donos da verdade. Ajudou tanto a entender que existe um vasto e desconhecido universo a minha volta, para o qual a humanidade não faz a menor diferença – me colocando num paradoxo: por um lado me deixou humilde, por outro metido a besta por achar que entendia mais que os outros (que trouxa).
Star Trek foi um acerto pra mim. E espero que JJ Abrams seja um acerto para Star Trek, empurrando a franquia um passo adiante, colocando-a como algo de vanguarda novamente – pois bem sabem os fãs abalisados que ela precisa. Provavelmente não me sentirei inspirado como já me senti antes, apesar de tolerante, ainda sou bastante cínico, sarcástico e descrente.
E assim seguimos, com muito mais a aprender com nossas derrotas e vitórias. Mesmo que o presente não nos permita ver a utopia, podemos continuar lutando por ela. Afinal, só assim vamos atingir a fronteira final; onde nenhum homem, ninguém, jamais esteve.
PS: O título é uma piada corrente entre Trekkers/Trekkies (mais uma diferenciação inútil) e é uma paráfrase do título deste livro.
the nerd is dead
NOTA: Comecei esse texto como uma reflexão sobre minha relação com Star Trek. Mas ele acabou tomando outra forma, embora ainda bastante relacionada. O texto sobre Star Trek e eu virá em breve. Mas por enquanto fiquem com essa elocubração que venho mastigando a algum tempo, sobre como creio que o sentido da palavra nerd se perdeu nos dias de hoje.
Creio firmemente que nerds e geeks são conceitos completamente perdidos nos dias de hoje. Por questões práticas usarei apenas o termo nerd para significar ambos e dispensar o longo e estúpido debate de qual é a diferença. Hoje em dia não se passa um dia sem que alguém bata no peito declarando ser nerd, ou uma semana sem que algum veículo grande de mídia mencione o assunto de uma forma ou de outra. Basicamente, para ser nerd hoje basta gostar qualquer seriado que tenha algo de sobrenatural/tecnologico e passar muito tempo conversando com pessoas no computador. Convenhamos, todos que trabalha em um escritório passa a maior parte do tempo conversando com pessoas por um computador, a partir daí basta chegar em casa e ligar no Sony ou Warner. Pronto, temos um “nerd”.
Não ao meu ver. Creio em outra definição, alinhada ao significado original de Otaku: Alguém extremamente dedicado, muitas vezes cegamente, a um punhado de atividades. Sejam elas envolvidas com seu trabalho, seu gosto em cultura popular ou hobby – de empilhadeiras a cantoras pop pré-fabricadas tipo Britney Spears. Exemplos clássicos de figuras assim seriam Leonardo da Vinci
, Isaac Newton, Steve Wozniak e um punhado serial killers. E hoje em dia, com uma pessoa famosa por semana, são poucos aqueles que realmente se dedicam a algo.
O final dos anos 90 marcou um grande declinio na população nerd clássica. A proliferação da tecnologia e facilidade de acesso a informação fez com que o conceito abrisse as pernas e passasse a incluir toda a gama de nerdices que temos hoje. Ao ponto de que declarar-se nerd chega a ser cool. Bem, se é cool, não pode ser nerd. Ainda existem true nerds por aí, mas raramente ouvimos falar deles. E porquê? Eles não gostam de atenção. Nerds gostam de sua dedicação e dos universos que criam em volta delas, são aversos a interferências externas. Não gostam da mídia fazendo circo em volta deles.
Como parte desse novo formato do conceito de nerd, os frutos da cultura pop considerados extremamente nerds passaram a tomar uma nova faceta também. Como declarar-se nerd, elas também passaram a ser cool. Seriados de dedicação extrema e trama intrincada como Lost, Star Wars
, Senhor dos Anéis
e Super-heróis; todos se tornaram mega super sucessos e verdadeiras manias sem fim. Jogos de RPG deixaram de significar um bando de adolescentes espinhudos reunidos em uma mesa na madrugada para ser um gênero de video-game altamente lucrativo. Antigas franquias de ficção-científica ganharam nova roupagem, como Speed Racer
, o já mencionado Star Wars, Terminator
, Battlestar Galactica
, Super Máquina, Mulher Biônica
e vários outros – independente do grau de sucesso original.
Claro que muitos dos exemplos que dei foram de fato bem sucedidos no passado, caso contrário não teriam durado tanto no imaginário popular. Mas não havia a opinião generalizada de que Obi-Wan Kenobi, além de assunto nerd, era um cara super cool. Muitas pessoas admitiam que gostavam de “coisas de nerd” apenas em lugares fechados e de pouco acesso, jamais batendo no peito e gritando por aí. Os nerds se guardavam para si.
De maneira nenhuma eu acho que tudo tenha que parar e precisamos dar uma freada. Embora aquele cara gorducho de camisa-azul clara e protetor de bolso, que trabalha com mainframes em um porão e tem uma coleção de bonecos do Optimus Prime, deve ter tido um enfarto ao ver o filme dos Transformers. Que venha mais e mais, mas com qualidade, por favor, não me façam assistir Elektra. Eu só enxergo que tudo isso, simplesmente deixou de ser nerd.
Me parece que estou me comportando como uma metalinguagem humana. Sendo um nerd a respeito do termo nerd. Mas isso está além do meu controle. Está na hora de aceitar que o termo se perdeu, e nada mais será como antes. O futuro já chegou. Como disse uma vez, a realidade atual é cyberpunk. Por isso, passarei a usar o termo Otaku, que apesar de distorcido no ocidente para significar o “nerd de anime”, ainda não é tão difundido – pelo menos até eu bolar um nome melhor, e bem obscuro – coisa de nerd.
caprica
Battlestar Galactica acabou, mas nem tanto. Como as modelos gostosonas que povoavam o seriado, tudo que é bom tem que voltar. Portanto, depois de um download acabo de ver o renascimento da série na forma de Caprica.
Caprica é na verdade a mamãe de BSG. E pode ser uma boa oportunidade para os que sempre foram curiosos sobre Galactica mas têm medo de naves estelares experimentarem um pouco desse universo. O piloto de uma hora e meia acaba de sair nos EUA e vazou na internet há algumas semanas. A temporada de 13 episódios deve estrear ainda esse ano.
O tom realmente é outro, foram-se os corredores claustrofóbicos e os atores vestidos em trapos suados e uniformes pomposos. Entram homens elegantes de sobretudo, chapéu e luvas, andando por ai em carros e jogando “tênis do futuro”. A cena mais bombástica em Caprica é de fato a explosão de uma bomba, que dá partida na trama. Trama que é de fato um drama familiar, com dois chefes de família em conflito tentando cada um a sua maneira lidar com a perda.
Ao contrário das diferentes encarnações de Star Trek ou CSI, que se contentam em habitar o mesmo universo contando histórias totalmente paralelas com raros momentos de ligação, Caprica tem dois pontos na trama que fortemente a conectam à BSG: Um dos motes da série é mostrar a origem dos Cylons, os robôs cromados impiedosos que os humanos enfrentam. O outro é a vida e obra de Joseph Adama, advogado lendário mencionado inúmeras vezes durante BSG por seu filho William Adama.
Ao ver o trailer e algumas cenas confesso que fiquei com receio da série ser adolescente demais. Tipo Caprica 9020. Fico aliviado em dizer que não, os pilares são mesmo Joe “Adams” e David Greystone e seu dramalhão temperado com tecnologia. Para os que não viram BSG, não há surpresas. Para os fãs, há muitas, especialmente em se tratando de tecnologias avançadas proeminentes e preconceitos mais arraigados.
Caprica me parece irá mostrar não apenas a ascenção dos Cylons, mas também a transição para uma era de certa rejeição tecnológica em favor de uma maior integração entre humanos. Em termos temáticos, a série pega bem mais pesado nas questões religiosas e mostra a ponta de um iceberg existencialista. O transhumanismo é um assunto central nesse episódio piloto.
Ao final, você já tem algumas respostas para fãs de BSG e diversas possibilidades para uma série. Os autores e produtores fizeram um bom trabalho inserindo novos elementos, que têm potencial para tornar Caprica uma série por mérito próprio e não apenas um sidekick de Galactica.
all along the yellow brick battlestar
Considerando que mencionei Battlestar Galactica neste blog diversas vezes, tenho a obrigação de falar sobre seu final. Diria até que estou atrasado. Se você nunca assistiu a série, peço que seja paciente e continue lendo, farei com que valha a pena. Se você já viu, tem boas chances de que foi por minha insistência, já que sou um grande evangelizador dessa série.
Eu amo essa parada
É difícil falar apenas do final e não dizer o quanto acho essa série incrível. Ron Moore, o produtor, salvou a ficção-científica pra mim (em termos pessoais). Resumindinho para os que ainda não viram: Em um lugar do espaço que não tem nada a ver com a nossa amada Terra, humanos vivem nas chamadas 12 colônias. Para facilitar a vida criaram robôs chamados Cylons, que a certo ponto se rebelam e vão embora. No dia em que voltam, de 12 planetas, 50 mil pessoas sobram em uma frota de naves em busca de um lugar para viver – lugar que muitos acreditam ser a Terra (apenas um mito). Recomendo também ler esse antigo post sobre a série.
Em uma época em que as referências culturais voltam no máximo à década de 70 é fácil apontar dedos e dizer que BSG está chupando idéias de Exterminador do Futuro, Blade Runner
, Star Trek
(na qual Moore trabalhou por muitos anos) e Star Wars
(2001
, Metrópolis
, alguém?). E na verdade está.
A BSG atual é o remake de uma série do final dos anos 70 e começo dos 80 que tentou pegar carona no sucesso de Star Wars e Star Trek, mas que se mostrou mais um caso de boa idéia desperdicada – em uma semana a raça humana era quase dizimada e na outra todos estão felizes jogando frescobol em um planetinha qualquer. A BSG atual não esconde suas inspirações, que vão desde os já mencionados até Bob Dylan, poesia,mitologia greco-romana
, cristianismo
, filosofia
, mormonismo
(que já estava fortemente presente na série original) a Queda da Bastilha
, o assassinato de Lee Oswald e muitas outras coisas que sequer me lembro. Galactica conseguiu juntar tudo isso em um pacote muito tentador, chamado de “ficção científica naturalista” em que exclue-se o papo técnico excessivo (Star Trek) ou mirabolâncias heróicas (Star Wars) e as substitui por tramas intrincadas que giram em torno dos personagens.
Em 5 anos (já que o Sci-Fi resolveu arrastar quatro temporadas o máximo possível) Ron Moore nos brindou com momentos memoráveis, intercalando ação fenomenal e visual bem planejado com momentos emotivos e intimistas guiados por excelentes interpretações – algo raro na ficção científica. Tricia Helfer, a gostosona Number 6, recebe a coroa de melhor modelo que virou atriz da história. Ela carregou o personagem mais misterioso de toda a série nas costas, criando momentos de tensão e riso ao mesmo tempo em que elaborava personalidades completamente díspares para outras cópias das personagens (sim, cylons tem muitas cópias). Edward James Olmos, Mary McDonnell e Dean Stockwell, atores da velha guarda, tornavam suas cenas emocionalmente carregadas e com um ritmo sensacional. O resto do elenco seguia essa liderança sem igual na televisão atual.
Apenas as séries Star Trek, Sete Palmos e Galactica conseguiram arrancar lágrimas da minha pessoa, e BSG o fez em uma cena sem falas – digo isso sem um pingo de vergonha.
Como já disse várias vezes Galactica tomou o manto de Star Trek no quesito alegorias. Terrorismo, direitos humanos, justiça, religião, preconceito, aborto, estupro, tolerância, genocídio e vários outras questões foram levantadas ao longo da série. E o melhor de tudo, ela não tenta trazer respostas, mas sim nos lembrar que existem perguntas. Nos faz olhar a nossa volta e refletir, as respostas não devem ser encontradas em uma série de TV, e sim na vida real.
Mas agora sobre o final propriamente dito.
Confesso que inicialmente não gostei dos flashbacks pré-ataque. Especialmente porque eles não estavam fazendo o menor sentido. Mas depois compreendi que eles eram importantes para fechar os ciclos dos personagens, embasar a trajetória deles até o derradeiro momento da série. Representam o nascimento da personagem que conhecemos durante esses quatro anos e da qual nos despedimos agora.
Uma série como Battlestar, cheia de mistérios e questões que muitas vezes trancendem o que estamos vendo na tela, não é fácil de colocar um ponto final. Mas ele veio na hora certa. Os balanços no barco durante a quarta temporada claramente mostraram que a fórmula não funcionaria por muito mais tempo. E terminou antes que desandasse completamente.
De fato não há como agradar todos quando o assunto é mistério. Sempre haverá aquele que dirá “poxa, mas eu queria que o fulano fosse o culpado” ou, para combinar mais com o tema “como assim o beltrano é cylon?”. Dito isso, achei ótimo que haja pontas soltas. Os flashbacks acabam servindo para reforçar a idéia de que o episódio será guiado pelos personagens. Nenhuma resposta mágica surgirá dos céus, você saberá tanto quanto essas pessoas diante de você, e nós aprendemos nesses quatro anos que mesmo as mais misteriosas são tão falhas quanto nós. Uma decisão geralmente tomada por séries dramáticas.
Além disso o episódio consegue resumir quase tudo que Galactica é: Uma busca por respostas pessoais e universais no meio de um tiroteio intergalactico impiedoso. As cenas de ação são obviamente de uma proporção jamais vista e ver a nave quase se esfacelando é ao mesmo tempo empolgante e triste, eletrizante e poético. Testemunhar centuriões de diferentes gerações se estapeando e personagens executando vinganças que consideramos justas beirou o êxtase. Como toda obra equilibrada, percebe-se que não há vitória sem sacrifício, mas que ele vale a pena.
Um tema central em Galactica é um dos temas centrais da vida: De onde viemos? Para onde vamos? Em BSG isso se manifesta na idéia de que vivemos em um constante ciclo, e o grande desafio é desvencilhar-se dele. Durante a série existe o antagonismo de duas visões religiosas distintas (mais o ateísmo). A mensagem no episódio final é de que, independente de acreditarmos em uma força toda-poderosa, somos nós que temos que tomar a atitude para quebrar o ciclo. Não podemos puxar a cortina para ver se há alguém atrás puxando controles, apenas caminhar pela estrada de tijolos amarelos e escolhermos nosso próprio caminho – e viver com nossas escolhas.
tim berners-lee é um cylon
Seu modelo é o Number Five.
Aaron Doral – um dos primeiros modelos de Cylon descobertos pelo Comandante Adama.
Tim Berners-Lee – primeiro humano (?) a usar a web (e de fato inventá-la).
Cuidado, eles têm um plano!