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criação por subtração
Já falei por aqui a importância do grafitti nas cidades, como é uma expressão válida de pessoas comuns e aquela coisa toda. Mais especificamente falando do crime realizado pela administração Marta ao pintar por cima dos antológicos desenhos presentes no Buraco da Paulista. Isso foi mais ou menos remediado pelos novos grafites, agora inspirados na cultura japonesa.
Pois bem, no prisitina.org descobri o trabalho realizado pelo Alexandre Orion. Ele usou apenas um pano e a sujeira presente no túnel entre as Avenidas Europa e Cidade Jardim de SP para criar sua obra, intitulada Ossário (no site há vídeo e relatos do acontecimento) .
Claramente observado por câmeras da CET enquanto fazia seu trabalho, foi interrompido pela polícia diversas vezes, que nada podiam fazer pois limpar não é crime (ainda). Inicialmente a CET tentou impedir o progresso da obra limpando o túnel, mas preguiçosa como é, limpou só a parte desenhada, deixando o resto do túnel como tela. Da segunda, todo o túnel foi limpo.
E não só ele, como vários outros túneis da cidade foram subseqüentemente limpos. Na minha opinião: Ótimo. Grafitti (comum ou reverso) é de fato uma obra etérea, uma hora ou outra alguém irá pintar por cima, fazer outro desenho, ou mesmo demolir a “tela”. Orion estava justamente chamando a atenção para o problema da poluição e sujeira presentes em São Paulo que é negligenciada pela Prefeitura e mesmo pelos cidadãos.
A intervenção foi feita em 2006, e em 2007 lembro de passar pelo túnel Ayrton Senna e ver uma mensagem de protesto escrita na sujeira (infelizmente esqueci qual era o texto). O que obviamente significa que a limpeza de fato não foi feita para limpar em si, mas sim para inibir o trabalho de Orion. Como no caso do Buraco da Paulista, as autoridades acreditam que é melhor calar os que falam do que fazer seu trabalho devidamente.
Mas o que fazer? O mais fácil é continuar espalhando o trabalho de Orion por aí. Também podemos contactar nosso vereadores, sugiro em especial a vereadora Soninha e reclamar do estado das vias. E melhor ainda: Diminuir nosso uso de meios de transporte individual poluídores (i.e. carros) e até mesmo criar nossos próprios grafites reversos.
Claro que o que não se deve fazer, que publicitários já fizeram, é inverter o propósito dessa arte com o intuito de vender mais carros.
sobre controle de blogs
Irei corrigir um erro meu e aproveitar a oportunidade para desenvolver um assunto. Na terça-feira à noite ocorreu um mini blogCamp envolvendo alguns membros do CampusBlog e do BarCamp aqui na CampusParty. Um dos assuntos na pequena desconferência foi a ética no universo de blogs. Como isso seria possível? Quem estabeleceria as regras? Quem seria a polícia?
A conferência já tinha começado a algum tempo quando me juntei. Quando vi o anuncio dela no liveStream o assunto era a monetização de Blogs. E até me embalar no assunto, ele já tinha mudado umas quatro vezes. Basicamente peguei o debate sobre blogues corporativos e a tal ética blogueira.
Uma crítica minha fica ao destaque dado ao circo em volta. A roda era grande, e mal se ouvia os falantes do outro lado. Blogueiros precisam aprender sobre impostação e projeção de voz. Havia várias câmera e alguns microfones. Um deles um boom gigantesco empossado por uma loira alta e bonita (que eu estupidamente não fotografei) que atrapalhava os que estavam ali para ver e mesmo participar.
Voltando ao debate em si, o grupo já estava se debandando quando fiz uma colocação que acabou não sendo ouvida até o final. O que mencionei tem a ver com uma notícia que vi à um tempo atrás sobre a possibilidade da criação do Bloggers Guild of America, uma espécie de sindicato de blogueirs nos moldes da Writer`s Guild of America (aquela que estava em greve à pouco tempo, para o desespero dos viciados em séries de TV). Seria uma possível ferramenta para responder a questões coletivas, monetárias ou não, dos blogueiros nos EUA.
Minha colocação foi justamente a possibilidade da criação de uma espécie de “cooperativa”, da qual os blogueiros poderiam fazer parte, voluntariaente. A adesão à essa suposta associação estaria sujeita a certas regras de conduta, e renderia uma espécie de selo atestador. Algo simples. Mas não consegui desenvolver o assunto, e meu uso da palavra cooperativa foi levado ao extremo.
O que eu quis dizer é que, independente da palavra usada para descrever essa associação, é que não tenho certeza se aprovo a idéia – provavelmente não. Esse tipo de iniciativa tem um grande potencial de criar uma elite blogueira, uma panelinha. Blogueiros que por uma razão ou outra não a integrassem poderiam entrar em um estado de ostracismo digital. Joguinhos políticos e favoritismos poderiam facilmente entrar em jogo.
Como exemplo disso temos o Overmundo. Que desde o começo sempre teve um escritório que dita as regras gerais, que são simples, benevolentes e abertas. Estando dentro da proposta temática do site, e usando boas maneiras, você é livre para usar como quiser. Mas o sistema de pontuação empregado pelo site causou alguns problemas, em especial no final de 2007. O objetivo dos pontos é dar mais força àqueles que são mais votados, com a premissa de que quanto mais qualidade no conteúdo, mais votos ele receberá. O problema se deu quando um grupo de membros estabeleceu um esquema informal de troca de votos. Muitos se votavam mutuamente e aumentavam a pontuação de seus amigos astronomicamente, em contrapartida, aqueles fora desse grupo acabavam escandeados no site. Isso gerou muitas brigas e acredito que ainda não foi resolvido completamente.
É o exemplo de como uma boa idéia na teoria pode sair pela culatra. Fora que um grupo regulamentador é algo que vai contra a própria essência da natureza dos blogs. Só para deixar claro, isso não tem nada a ver com coletivos de blogs e esse tipo de inciativa – nada mais natural que um grupo em sintonia se juntar para fazer algo em conjunto para tentar ganhar mais destaque. Mas nenhum coletivo se deu o título de agencia regulamentadora de blogs, nem deve e tenho certeza que não fara. Blogs são livres, e devem permanecer assim.
O que deve acontecer, ao menos por enquanto, é continuar o diálogo entre eles, para que a qualidade do conteúdo e a conduta ética sempre estejam em foco. Apontar o dado ao formato blog como uma mazela da informação é um erro grave, é querer tapar o sol com a peneira. O problema dos blogs de (suposta) má qualidade não está no fato de ser um blog, é conseqüência de outros problemas sociais dos quais padece o dono do blog. Se uma pessoa sem escrúpulos inicia um blog, ele será com certeza problemático, mas não por ser um blog.
a fonte da picaretagem
Há alguns anos fiquei empolgadíssimo quando ouvi falar a respeito de The Fountain, terceiro longa de Darren Aronofsky. Tinha gostado muito de Π e Réquiem para um Sonho e estava louco pra ver como Aronofsky iria tratar uma Ficção Científica declarada.
A sinopse era ambiciosa: Uma história encompassando três épocas: As grandes navegações, os dias e hoje e o futuro distante; sobre um mesmo homem em busca de sua amada (ou algo assim). Fiquei bolando várias possibilidades de como a trama poderia ser, como ela se amarraria e tudo o mais.
O tempo passou, o projeto foi cancelado, foi parar no limbo e então voltou. E foi na mostra de 2006 que consegui finalmente matar minha sede por The Fountain. E foi bem diferente de qualquer coisa que eu esperava. O visual e a trilha sonora eram sensacionais, os efeitos eram diferentes de tudo que eu tinha visto, com uma direção de arte impecável. Já a história deixou a desejar.
Depois de ver novamente o filme repensei alguns conceitos, amarrei pontas na trama e passei a gostar muito mais. Outro dia elaborei uma sinopse melhor do que a oficial quando recomendei o filme a um amigo: Uma ficção científica sem tecnobable, sem trajetória do herói, sem missões absurdas ou escapadas miraculosas. É de fato ambicioso e diria até um 2001 do coração, ao invés da cabeça.
A produção do filme foi turbulenta, e quando Brad Pitt teve problemas com o diretor e foi fazer Tróia (fico imaginando o que se passou na cabeça do sujeito: “Ao invés de fazer um filme cabeça, diferente, com um diretor novo e cheio de talento acho que vou fazer um blockbuster com um alemão maluco sem imaginação que só vai acentuar minha fama de corpo gostoso e casca vazia.” vai entender) Aronofsky guardou para ele os direitos de publicar a história em quadrinhos, e foi o que ele fez pela Vertigo.
Sempre ouvi dizer que o roteiro havia mudado e sido simplificado desde a saída de Pitt para comportar um orçamento mais “modesto” e que o quadrinho era baseado no roteiro original e mais megalomaníaco. Com essa informação, comprei recentemente a Graphic Novel.
E me senti enganado. A história é exatamente a mesma que a do filme. Para não ser tão drástico existem pequenas diferenças no que ocorre durante as grandes navegações e um toque no final que não muda em nada a trama ou a experiência em si. Mudanças cosméticas no máximo, meio como a diferença entre A Sociedade do Anel e sua edição estendida, aliás, bem menos que isso.
O pior de tudo é que o meio do quadrinho nem é explorado de maneira alguma. Ao contrário de títulos nobres como V de Vingança, Sin City ou mesmo O Gralha, a graphic novel não vai além de um momento de exibição do artista. Os desenhos são de fato muito bonitos, pinturas praticamente, mas em nada elas acrescentam à experiência de leitura da história. É como quadrinhos ilustrados por Alex Ross, é tudo muito bonito e tudo o mais, mas eu gosto de ler quadrinhos, não ver pinturas com balões; se for assim prefiro uma exposição do Lichenstein – que mesmo assim consegue explorar mais o meio dos quadrinhos do que The Fountain.
O que acreditei ser uma nova experiência nada mais se mostrou do que um golpe financeiro em forma de item de colecionador. E por mais que eu tenha gostado do filme não quero colecionar todos os itens relacionados.
Muitos dizem que Requiem Para um Sonho e Π são a mesma coisa, e mesmo gostando bastante dos dois sou obrigado entender o raciocínio: estilisticamente são a mesma coisa, lidando com outros temas. Achei que estava comprando uma nova interpretação e levei um embuste. Estou decepcionado com Aronofsky, que está se mostrando um belo de um picareta, e começo a concordar mais com os críticos de Π e Réquiem.
O Ano do Peixe – 31ª Mostra de Cinema de SP
Acabei perdendo cerca de 20 minutos do início do filme, portanto podem considerar minha opinião incompleta. Mesmo assim consegui pegá-lo em um ponto aceitável para compreendê-lo e envolver-me.
Ao perceber que se trata basicamente da história de Cinderella em Chinatown, achei que estava fazendo algum tipo de descoberta – mas é isso que dá não ler a sinopse direito, já que isso está claramente explícito nela.
O filme utiliza uma técnica de rotoscopia digital semelhante à de “O Homem Duplo” e “Waking Life“, não com o mesmo efeito cartunesco, mas numa tentativa de aproximar-se de uma pintura impressionista. Mas o resultado ainda é parecido, ainda mais considerando o tom de fábula da história, que quase a coloca como um quadrinho de Neil Gaiman.
Ye Xian é uma imigrante sofrida que padece nas mãos de uma chefe cruel, e atravéz de encontros fugazes com Johnny e figuras bizarras nas ruas de Nova Yorque consegue encontrar um fio de esperança para sua situação. Seu único amigo é um peixe mágico que cresce demais para seu próprio bem.
A trilha sonora é exagerada em alguns momentos, assim como a narração ao final do filme – nos beneficiaríamos com algo mais sutil. Mas o filme não tenta mascarar seu positivismo em momento algum, assumindo o que é: quase infantil. Um dos pontos positivos é ver diversos atores orientais que estamos acostumados a ver como coadjuvantes em produções hollywoodianas como os protagonistas da história.
Acabei por dar 4 em 5, mas ainda estou na dúvida se vale tanto. É provável, mas considerando que não vi o filme todo deveria ter me abstido.
Perdido em Pequim – 31ª Mostra de Cinema de SP
Tenho dificuldades para escrever quando um filme é mais ou menos. Se ele é o máximo ou um desastre completo eu me esbaldo, mas no caso de Perdido em Pequim acabo ficando em cima do muro – e em se tratando da Mostra, acabo sempre em dúvida se a culpa é minha ou do filme – a sorte é que pude conferir com amigos independentes e no caso é culpa do filme mesmo.
Na verdade o filme é bom, competente. Mas não é imperdível, se você tem outro do qual está mais seguro para ver, não vale a pena mudar os planos. O mesmo que eu diria sobre O Ano do Peixe, mas aquele tem um toque a mais que o diferencia.
Uma produção bem feita, com boa história e performances muito boas, Perdido em Pequim tem tudo para ser um filmaço. Mas acaba se perdendo em sua própria narrativa, criando armadilhas para si mesmo na trama – especialmente no último terço do filme, que poderia ser completamente diferente, mais simples e mais curto, dando muito mais impacto.
Vale como um retrato da China atual, muito mais competente do que Solstício de Verão, mas ainda inferior à Dumplings. O contraste entre a classe emergente a aqueles que lutam para sair dos cortiços, e à confusão de valores que isso acarreta são temas poderosos que poderiam diferenciar este drama com toques de comédia incidental.
Eu digo, assistam, mas não percam Dumplings: Nota 3 em 5.